Santos abandonou ajuda psicológica após rebaixamento, e especialista aponta reflexos em campo
Por Rodrigo Matuck
São Paulo, SPO Alvinegro Praiano tinha Juliane Fechio como psicóloga até o fatídico 6 de dezembro de2023, quando o time perdeu por 2 a 1 para o Fortaleza e caiu pela primeira vez para a Segunda Divisão.
Desde que Marcelo Teixeira reassumiu a presidência, em janeiro deste ano, ninguém chegou para suprir a saída da psicóloga.
Atualmente, o Santos vive um momento de instabilidade. Apesar da vitória de 1 a 0 sobre o Brusque, no último sábado, o clima segue estranho na Vila Belmiro, com o clube patinando e correndo risco de não ficar entre os quatro primeiros colocados da Série B.
Ao longo do torneio, aliás, o Peixe vem sofrendo para segurar resultados. A equipe de Fábio Carille já deixou escapar, ao menos, cinco vitórias. Os paulistas saíram na frente contra Vila Nova, CRB, Sport, Guarani e Ponte Preta, mas em todos os casos acabou levando o empate, muitas vezes já na reta final dos compromissos.
O caso mais frustrante aconteceu diante da Ponte Preta. Na ocasião, o Alvinegro Praiano estava vencendo por 2 a 0, com homem a mais, e permitiu a reação da Macaca, em plena Vila Belmiro. Os visitantes igualaram o marcador já nos acréscimos.
A Gazeta Esportiva conversou com o Dr. João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente de Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício Físico. Na sua visão, esses jogos poderiam ter um desfecho diferente com um acompanhamento psicológico diário.
“O Santos vem mostrando nos últimos jogos uma confiança muito abalável, uma falta de concentração também muito grande coletiva, a se contar os empates e até algumas derrotas que sofreu depois de começar ganhando. O psicológico influencia o gesto técnico, na ação esportiva. Você faz trabalhos individuais e coletivos com os jogadores visando o aprimoramento da confiança, da segurança, dos bons pensamentos, da motivação, da tomada de reação, da velocidade de reação dos atletas", disse.
"Com o rebaixamento e com todas essas mudanças que vem acontecendo no Santos, um trabalho psicológico seria certamente importante, um trabalho de integração, comunhão, de grupo, fortalecimento de grupo e um trabalho junto a comissão técnica também, na área de orientação psicológica motivacional. Ajudaria muito nesse momento”, ampliou.
Cozac chegou a apresentar um projeto de ajuda psicológica ao Santos, mas, após conversas com a diretoria, obteve uma resposta negativa.
“Entendo que o Santos errou muito ao interromper o trabalho ao cair para a Série B. Isso é um erro estratégico. Entendo que o momento de instabilidade comportamental ao qual o Santos vive também exige um olhar mais específico de um profissional dentro de uma leitura multidisciplinar, trabalhando com comissão técnica e com os atletas”, analisou.
“É muito importante ser ter um psicólogo no clube. O esporte de alto rendimento tem uma demanda psicológica e emocional de autocontrole, equilíbrio interno, fortalecimento mental diante das adversidades, da convivência dos atletas no âmbito social. É muito importante o trabalho psicológico, tanto na saúde mental quanto na performance. Antes de um atleta existe um ser-humano. Não é incomum a quantidade de jogadores que vem buscando ajuda nos consultórios. Muitos precisam buscar ajuda fora pois não tem trabalho dentro”, finalizou.
A reportagem entrou em contato com o Santos para entender o motivo do clube não ter contratado nenhum profissional para o setor, porém não obteve resposta.
O Peixe volta a campo no domingo, quando recebe o América-MG, na Vila Viva Sorte, às 16 horas (de Brasília), pela 26ª rodada da Série B.