O volante é carinhosamente conhecido como "Balão", seja por colegas do time ou pelos torcedores. "O apelido saiu através de um amigo, em uma viagem de escolinha no Maranhão. No começo eu me incomodava um pouco, mas agora levo na brincadeira", revelou o garoto de 19 anos em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.
Nos arredores do bairro do São Francisco e Ponta d'Areia, em São Luís, Balão não teve uma infância fácil, como tantos outros jogadores. Seus pais, Sr. Francisco e Dona Francisca, e o treinador Edivaldo Santos, investiram e incentivaram o jovem a seguir o caminho da bola.
"Minha infância foi parecida com grande parte das crianças brasileiras que moram na favela. Tive muitas dificuldades no início, saía de casa cedo para estudar e depois ia e voltava a pé dos treinos, que duravam mais de três horas. Chegava em casa tarde e repetia essa rotina todos os dias da semana. Várias vezes eu desanimava com a falta de oportunidades, mas meus pais e amigos me incentivaram bastante para que eu continuasse me dedicando para estar pronto quando a oportunidade aparecesse", comentou o garoto.
No final de 2018, João Victor chamou a atenção do empresário Márcio Brito, e a partir daí, sua história no futebol começaria a ser escrita. O agente, que também é presidente do São Luís FC, convidou o jovem a ingressar nas categorias de base do clube.
Entre torneios sub-16 e sub-17, Balão passou a chamar atenção no cenário do futebol nacional. O volante chegou a receber convite do Vasco para uma avaliação e passou uma semana no Ninho do Urubu, passando por testes no Flamengo. Em setembro de 2019, o garoto descobriu que não foi aprovado no Rubro-Negro.
Ainda de olho em novos saltos, Balão passou no início de 2020 por um período de atividades na Ferroviária, de Araraquara, e novamente foi reprovado. No meio do mesmo ano, o jogador se transferiu para o Moto Club, um dos clubes mais tradicionais do Maranhão.
Após ficar de fora da disputa da Copa do Nordeste sub-20 por conta de um teste positivo para covid-19, Balão chegou a pensar em desistir do futebol. Mas, pouco tempo depois, conseguiu seu espaço no grupo profissional do Moto Club e participou do Campeonato Maranhense disputado no primeiro semestre de 2021.
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O Papão do Norte acabou perdendo a decisão do Estadual para o Sampaio Corrêa, mas Balão terminou a competição como vencedor. Logo após o torneio, o jovem recebeu proposta concreta do Fortaleza e despertou interesse em Atlético-MG e Santos.
Com os interesses se concretizando em propostas, coube a João Victor decidir onde queria jogar. Para ele, a decisão não foi muito difícil.
"Tive algumas propostas de outros times aqui do Brasil, mas quando falaram do Santos eu não pensei duas vezes. É um time onde passaram grandes craques e que é reconhecido no mundo todo. Já são mais de seis meses desde que cheguei aqui e tem sido um privilégio para mim poder jogar em um dos grandes clubes do Brasil", disse Balão.
Seu começo no Santos não foi fácil. João teve que lidar com dois obstáculos: sua timidez e o clima diferente com o qual estava acostumado. "No começo foi muito difícil. Estava acostumado com o calor do Maranhão e o frio de São Paulo me atrapalhava bastante nos treinos. Levei um tempo também para me enturmar com o grupo, mas quando comecei a ser relacionado para os jogos, fiz amizades e consegui me soltar mais", revelou.
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O estilo de jogo de Balão chama atenção. Assumidamente fã de Casemiro, o jogador foi muitas vezes chamado de "motorzinho" durante a Copinha, por conta da sua importância dentro de campo em todas as fases do jogo.
"Fico feliz com o apelido. Eu tenho esse estilo de jogo, de buscar sempre ajudar a equipe, tanto defensivamente, quanto no ataque também. Procuro dar bastante opção para fazer esse papel de unir a defesa e o ataque. Vou me dedicar ao máximo aqui no Santos para continuar desempenhando bem essa função, seja na base ou no profissional", disse o garoto que revelou se identificar com o também volante Sandry, hoje no time de cima do Alvinegro da Vila.
O Santos terminou a Copinha com o vice-campeonato, tendo perdido a decisão para o Palmeiras no Allianz Parque. Porém, o Peixe fez ótima campanha, assim como João Victor. O garoto foi titular em todos os nove jogos do da equipe e deu uma assistência. Ele foi substituído em apenas duas partidas e terminou o torneio com uma média de nove bolas recuperadas por 90 minutos.
"Foi uma competição muito especial para mim. A Copinha é a maior competição de base no Brasil e fico feliz em ter disputado pela primeira vez com um time grande como o Santos. Queria muito ser campeão, mas infelizmente o resultado da final não foi o que esperávamos. Vivi momentos inesquecíveis na Copa São Paulo, que eu vou levar para a minha vida", disse.
"A Copa São Paulo é uma competição com muitos jogos próximos um do outro e com pouco tempo de recuperação, mas nosso time se comportou bem, teve muita entrega e se doou em todos os momentos. Acho que fizemos um bom trabalho, jogamos ótimas partidas e merecemos chegar na final. Paras as próximas Copinha é fazer aquilo que fizemos nessa, só que fechar com o título", completou.
Sobre subir para o profissional, Balão adota o discurso de cautela e mantém seu foco no sub-20. Porém, o técnico Fábio Carille já está de olho no jogador, também chamado carinhosamente de "Arouquinha". O apelido aponta semelhanças entre o garoto e Arouca, volante campeão da Libertadores em 2011 com o Peixe.
"Dos jogos da Copinha, só não assisti ao primeiro. Têm meninos ali de qualidade e vamos saber o momento certo de colocar eles em campo. Lucas Barbosa, Patati, Rwan, Jair, João Victor... Todos fizeram grande torneio", disse o treinador em entrevista coletiva no início do Paulistão.
Recentemente, a gestão de futebol do Santos tem adotado um discurso de reformulação da base. Balão elogiou a estrutura do clube mas ressaltou que mudanças que visam melhorias sempre agregam.
"A estrutura que encontrei no Santos é fantástica, de primeiro mundo e me impressionou bastante, ainda mais se comparar com a dos outros clubes que joguei no Maranhão. Mas reformular é sempre importante em todos os aspectos. Acho que o Edu Dracena está certo, é um ídolo do Santos e sempre vai buscar fazer o melhor pelo clube", comentou.
Desde que chegou ao Santos, João Victor possui 27 jogos (23 como titular), dois gols e uma assistência. Seu contrato com o Peixe vai até 30 de junho de 2023.
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