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Foto: Wander Roberto/COB

Willian Lima explica estratégia por trás de prata e fala em novo propósito após Paris: "Mudar vidas"

Gazeta Esportiva

Por Thais Bueno

São Paulo, SP
Willian Lima escreveu seu nome na história do judô brasileiro no último dia 28 de julho, logo nos primeiros dias dos Jogos Olímpicos de Paris. O atleta do Pinheiros conquistou a medalha de prata na categoria -66kg e abriu a contagem para o Time Brasil nesta edição do torneio.

Em coletiva de imprensa concedida na última quarta-feira nas dependências do clube paulista, o judoca explicou toda a estratégia da equipe que lhe rendeu o vice-campeonato olímpico.

"Essa medalha foi muito trabalhada muito nesses últimos meses. A gente conseguiu mapear e fazer um treinamento muito específico pra cada luta que a gente ia fazer. Como eu era cabeça de chave, a gente sabia melhor quem eram os atletas que iam cair na minha luta, e se não fosse como o técnico fez, talvez o que eu tenho poderia ter sido diferente. As gerações anteriores da minha tiveram muita participação na minha inspiração e vontade de ser atleta do judô. As primeiras Olimpíadas que eu assisti foram em 2008, e a partir dali assisti todas as seguintes. Acordava com o meu pai, com a minha mãe cedinho, porque era sempre um fuso horário diferente, então acabava sendo sempre de madrugada as Olimpíadas aqui", comentou.

Willian Lima, então, relembrou o início de sua trajetória no judô e quer ser para novos atletas o que os judocas do passado foram para ele: um modelo. O medalhista de prata acredita que a conquista em um dos palcos mais importantes do mundo pode render-lhe um novo propósito de vida.




"Aquilo foi aumentando uma chama dentro de mim de ter vontade de ser atleta olímpico, de me profissionalizar, de chegar a participar de umas olimpíadas e conquistar uma medalha olímpica. Acho que da mesma forma que mudou a minha vida assistir as olimpíadas, assistir o Leandro, assistir a Maria Suelen, assistir vários atletas, acredito que essa medalha é uma oportunidade de eu também mudar várias vidas. Eu acho que pode ser, provavelmente, o meu propósito de vida agora. Eu vi a mudança de vida de várias pessoas pelo esporte, pelo judô. Eu tinha muitos amigos que não tinham uma situação de vida tão boa e o judô mudou a vida deles. Eram pessoas que tinham envolvimento com drogas, pessoas que tinham envolvimento com morar na rua, e o esporte mudou a vida deles. Inclusive eu recebi uma mensagem falando disso, que uma menina assistindo a minha luta nas Olimpíadas ficou com uma emoção tão grande que foi buscar refúgio no esporte. Acredito que com essa conquista que eu tive, com essa medalha olímpica que eu tive, eu vou poder mudar a vida de muitas pessoas, de várias crianças, de várias mulheres. Espero poder contribuir para a sociedade", falou.

Durante a coletiva, o brasileiro também foi questionado sobre o que seu eu atual falaria para o seu eu de um mês atrás, antes mesmo de viajar à Paris. A resposta do atleta trouxe como destaque a caminhada até aqui, a superação de lesões e a parceria entre os judocas brasileiros.

"Eu falaria pra mim uma frase que eu gosto muito, que faz todo o sentido. Como a Bia falou, a gente tem nossos altos e baixos. A frase fala sobre o percurso da flecha. Antes dela chegar no seu alvo, no seu objetivo, ela é puxada pra trás, para aí sim, ser lançada pra frente e atingir o seu objetivo. E foi isso que eu senti nessa jornada. A gente tinha seus altos e baixos, muitas vezes eu me sentia muito lá embaixo, o treino realmente estava muito puxado. Tinham vários momentos em que a gente se juntava, falava o que estava sentindo, se abria um com o outro. Se encontrava, às vezes, na fisioterapia pra se recuperar também, mas no fim de tudo a gente entendia que aquele era o caminho, né? Não tinha caminho fácil, a gente tinha que passar por todo esse processo. No final do treino, a gente se sentia feliz por termos conseguido finalizar o treinamento, sabe? Tiveram muitas lesões no percurso. Eu mesmo comentei com a Beatriz, antes da gente competir, que a gente estava no caminho certo, porque o nosso técnico, Leandro, ele foi medalhista ali com a mão fraturada, com uma lombar ferrada. Eu estava com o ombro ferrado, com uma lesão no tendão, a Bia estava com os dois cotovelos ruins, a Larissa estava voltando de cirurgia. Então, eu brincava que a gente estava no caminho certo, treinando muito, sentindo essas dores. Me senti muito feliz e realizado de ver nós quatro, eu, a Bia, a Larissa, e o Baby voltando com essa medalha no pescoço. Eu acho que eu falaria isso para mim acreditar nos seus sonhos. Apesar de ser difícil, vai dar tudo certo", declarou.

Prata de Willian abriu caminho do Brasil em Paris


Willian Lima foi quem levou a primeira medalha do Brasil nos Jogos de Paris e abriu caminho para o restante dos medalhistas do país. O judô, inclusive, é o esporte que mais rendeu medalhas para brasileiros na história das Olímpiadas, com 28.

O judoca estreou em Paris vencendo Sardor Nurillaev, do Uzbequistão. Em seguida, ele avançou às oitavas de finais ao superar Serdar Rahimov, do Turcomenistão, graças a um ippon. Já nas quartas de final, aplicou novo ippon e venceu Baskhuu Yondonperenlei, da Mongólia.

Na semifinal, Willian se utilizou mais uma vez de um ippon para bater Gusman Kvrgysbavev, do Cazaquistão, e garantiu assim a vaga na final contra o japonês Hifumi Abe. Para ele, esse foi o momento mais emocionante de sua trajetória em Paris.



"O momento mais marcante... na real, eu estava tão no 'flow' da competição, que eu só me dei conta de tudo que tava acontecendo quando eu ganhei a semifinal. Quando eu ganhei a semifinal, parece que tudo começou a ficar em câmera lenta, que eu entendi o que tava acontecendo, que eu tinha chegado na final olímpica. Quando eu joguei o adversário na semifinal, parecia que tudo estava em câmera lenta, tudo paralisado, começou a passar um filme de todo o sofrimento que eu passei pra chegar ali. Tem muita coisa na minha cabeça, sabe? Tudo até parecia que estava mais iluminado. Veio um filme na minha cabeça, veio muita gratidão, comecei a conversar comigo mesmo na minha cabeça. Comecei a agradecer muito a Deus por ter me possibilitado de estar ali, ter me possibilitado de não ter me lesionado. Isso tudo foi muito marcante pra mim e aconteceu em dois segundos, sabe? Foi uma sensação de muita gratidão", apontou.

Na decisão, Willian Lima foi superado pelo japonês Hifume Abe por dois waza-ari. Apesar disso, o brasileiro teve campanha marcante nos Jogos Olímpicos e pôde colocar uma medalha no pescoço de seu filho Dom - realizando, assim, um de seus maiores sonhos.

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