Conselheiros pedem esclarecimentos sobre balanço e transparência - Gazeta Esportiva
Conselheiros pedem esclarecimentos sobre balanço e transparência

Conselheiros pedem esclarecimentos sobre balanço e transparência

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon

18/05/2020 às 18:15 • Atualizado: 18/05/2020 às 19:47

São Paulo, SP

Pandemia de covid-19 impediu a reunião do Conselho Deliberativo do Palmeiras (Foto: Acervo/Gazeta Press)


Por meio de documento endereçado a Seraphim Del Grande, presidente do Conselho Deliberativo, um grupo de conselheiros do Palmeiras pede esclarecimentos sobre o último balanço financeiro do clube e a respeito dos processos de transparência adotados pela agremiação.

O Palmeiras publicou no final de abril as demonstrações financeiras de 2019, acompanhadas por relatório de auditores independentes. Como a pandemia de covid-19 impediu a realização de reunião do Conselho Deliberativo para tratar do tema, o grupo de conselheiros resolveu se dirigir a Seraphim del Grande por meio de carta.

No documento, os integrantes da oposição questionam a possibilidade de promover reuniões remotas, citam o estouro do orçamento e o superávit aquém do previsto em 2019 e indagam em que consiste o ativo “estoques” (R$ 2,6 milhões) citado no balanço financeiro.

“Se o cenário para 2020 já era preocupante e demandava ações de controle e planejamento financeiro muito mais efetivas, a súbita crise que nos abarcou certamente irá fragilizar ainda mais as finanças da sociedade e de todos clubes de futebol, de modo que não há como escaparmos ilesos, em termos financeiros, nesse momento”, diz trecho documento.



Os conselheiros solicitam que os balancetes mensais voltem a ser publicados por meio do site oficial e a criação de uma seção na página eletrônica com informações sobre finanças e governança. O grupo pede ainda a troca da empresa responsável por auditar o balanço e a otimização do processo de ouvidoria.

“O Palmeiras sempre foi um clube de vanguarda, mas tem retrocedido em termos de transparência, seja no que diz respeito às nossas finanças ou aos nossos processos de governança. Estamos bem atrás de outros clubes brasileiros, que já disponibilizam todo conteúdo para seus torcedores, investidores, parceiros e sociedade, de forma ampla e didática”, diz outro trecho do documento.

Para terminar, o grupo de integrantes da oposição pede que os questionamentos sejam respondidos por Seraphim del Grande em um prazo de até 15 dias corridos após o recebimento da carta e abre a possibilidade de as respostas serem divulgadas publicamente.

Veja a íntegra do documento endereçado à presidência do Conselho Deliberativo:

No dia 29.04.2020 recebemos por e-mail a prestação de contas referente ao último exercício. Obviamente compreendemos as dificuldades que a atual crise traz para que as organizações reúnam seus membros e, nesse sentido, reforçamos a posição de que devemos respeitar as orientações dos órgãos e autoridades de saúde. Por outro lado, consideramos inadequado que o clube não disponibilize alguma solução tecnológica que permita os debates e questionamentos acerca do material enviado.

Nesse contexto, resta aos conselheiros tentar compreender os detalhes sobre a situação financeira da SEP apenas com base no pouco material a que se tem acesso e no que é veiculado pela imprensa.

Diante disso, solicitamos que o excelentíssimo Presidente deste Conselho nos auxilie em busca de alguns esclarecimentos, conforme descrevemos a seguir em dois tópicos. O primeiro diz respeito ao balanço recém publicado e seu detalhamento. O seguinte, sobre os processos de transparência do clube e a valorização do papel fiscalizador de suas instituições:

( 1 ) - SOBRE O DEMONSTRATIVO FINANCEIRO DE 2019

Solicitamos, respeitosamente, detalhes e explicações sobre o que segue:

A. REUNIÕES ON-LINE
Considerando que não há perspectivas de curto prazo para a volta de encontros presenciais, há algum estudo para utilização de ferramenta de reuniões remotas para o Conselho Deliberativo, incluindo a votação para aprovação do material em questão, assim como outros clubes já vêm promovendo?

B. ORÇAMENTO ESTOURADO E O PAPEL DO CONSELHO
O total das despesas aprovado para o exercício foi de R$ 547 mi, mas o clube gastou efetivamente R$ 663 mi, o que representa uma variação de mais de 21%. Quais os mecanismos de controle orçamentário que o Conselho Deliberativo pode propor para a Diretoria Executiva?

C. PREVISÕES ORÇAMENTÁRIAS DISTANTES DA REALIDADE
O superávit previsto no mesmo orçamento era de R$ 15,3 mi, mas ficou em apenas R$ 1,7 mi. Ressalte-se que o orçamento apresentado foi classificado pela Diretoria Executiva como “conservador” e não incluía os direitos de transmissão com a Rede Globo . Ou seja, sem os R$ 55 mi a mais recebidos nesta linha de receitas (que, aparentemente, não trazem novas despesas consigo), entende-se que a SEP teria encerrado o ano com prejuízo. Quais foram as rubricas responsáveis por essa diferença tão grande?

D. CONCEITOS INCOMPREENSÍVEIS E INÉDITOS
O montante incluído no ativo como conta ESTOQUE não possui precedente nos balanços anteriores. Este valor, por si só, faz com que o resultado financeiro do último exercício deixe de ser negativo para se tornar positivo. O ineditismo dessa contabilização, portanto, suscita algumas dúvidas. Outros clubes brasileiros adotam mesmo expediente? Assumindo que a rubrica estoque (que não possui detalhamentos) diga respeito ao material esportivo, gostaríamos do
acesso ao contrato celebrado com a Puma, assim como aos lançamentos contábeis realizados a esse respeito.

( 2 ) - PRECISAMOS DE MECANISMOS DE CONTROLE

Ao analisarmos os números divulgados e compará-los com o orçamento aprovado para 2019 - ou ainda, ao avaliarmos em perspectiva os últimos anos, torna-se evidente o vertiginoso enfraquecimento das finanças do clube. Nas últimas temporadas, o Palmeiras alcançou condições financeiras melhores que aquelas de praticamente todos os demais clubes do Brasil. Esse trabalho de resgate econômico, somado à reinauguração do estádio e à valorosa participação de nossa torcida, permitiu que o clube fosse considerado o “mais rico do país” por alguns anos. Apesar disso, o últimos demonstrativo financeiro reforçam os sinais de preocupação que eram visíveis em demonstrativos e balancetes anteriores.

Nesse ponto, reiteramos nossa preocupação com a interrupção, no ano passado, da publicação dos balancetes mensais, sem apresentação de qualquer justificativa razoável . O detalhamento e constante publicação das informações financeiras da SEP é peça fundamental para que qualquer associado possa acompanhar a gestão do seu patrimônio, para que o torcedor fiscalize as ações do departamento de futebol e para que os conselheiros possam exercer a responsabilidade que lhes é conferida por estatuto, de analisar as contas do clube. Sem essas informações, tateiam no escuro aqueles que se dispõem a entender e fiscalizar as finanças do clube.

Para melhor compreensão, não basta olhar uma foto tirada no fim de 2019, mas olhar os número em movimento e entender de que maneira a atual Diretoria Executiva assumiu o clube e como estamos no momento atual. Essas informações precisam ser debatidas e devem gerar reflexões e discussões importantes entre os conselheiros e entre toda a coletividade palmeirense, incluindo o torcedor que se importa em ver e construir um Palmeiras vitorioso amanhã.

Como se pode observar no gráfico acima, o incremento das receitas nos últimos anos foi acompanhado de aumento ainda maior em despesas, o que aproxima os números. Isso não é necessariamente ruim, especialmente se fizer parte de uma estratégia competitiva ou de marketing, que busquem incrementar, em paralelo, chances de sucesso desportivo ou receitas adicionais futuras. Ocorre que, como observado em 2019, enquanto as despesas subiram, o desempenho esportivo e as receitas pioraram.

Tal situação parece indicar que o aumento de despesas não está associada a uma estratégia adequada. Nesse sentido, consideramos preocupante a tendência observada, que pode ser melhor observada no gráfico abaixo, que traz uma representação da deterioração dos nossos resultados financeiros.

O cenário é ainda mais preocupante se considerarmos o exponencial crescimento da dívida (mais de 78%), apenas nos dois últimos anos. Ou seja, observamos que o clube gasta cada vez mais, sem auferir resultados desportivos, sem incremento de receita, e com aumento do endividamento que pode comprometer nossas finanças para os próximos anos.

Dessa forma, se o cenário para 2020 já era preocupante e demandava ações de controle e planejamento financeiro muito mais efetivas, a súbita crise que nos abarcou certamente irá fragilizar ainda mais as finanças da sociedade e de todos clubes de futebol, de modo que não há como escaparmos ilesos, em termos financeiros, nesse momento.

É justamente por reconhecer este grave cenário que solicitamos que a Diretoria Executiva prepare ações concretas não apenas para o pós-pandemia, mas também para um período potencialmente mais longo de isolamento social, criando condições reais para acompanhamento e controle, de maneira remota, por parte dos conselheiros, associados e torcedores.

Nesse sentido, solicitamos que a Presidência do Conselho Deliberativo solicite à Diretoria Executiva a adoção das seguintes medidas:

A. TRANSPARÊNCIA
É fundamental que os balancetes mensais voltem a ser publicados no site oficial, mensalmente, como ocorria até março de 2019.

B. CRIAÇÃO DO ESPAÇO CONTAS ABERTAS
Seja criado um espaço no sítio eletrônico do clube com o máximo de informações e dados sobre as finanças e governança do clube, nos moldes do que já adotado por outros clubes.

C. FORTALECIMENTO DOS CONTROLES FINANCEIROS
Considerando que a SEP possui o segundo maior orçamento do Brasil, superando meio bilhão de reais, recomendamos como boa prática de contabilidade a substituição da empresa que realiza a auditoria externa das contas do clube preferencialmente por uma das chamadas “Big 4”.

D. OUVIDORIA E ACESSO A DOCUMENTOS PARA CONSELHEIROS
São frequentes os questionamentos feitos por conselheiros que não são respondidos, mesmo com a protocolização formal dos pedidos. Solicitamos a criação de normativo que estipule o formato dessas solicitações, bem como os prazos máximos para resposta da Diretoria Executiva ou da Presidência do Conselho Deliberativo, garantindo ao conselheiro o pleno exercício de sua função.

O Palmeiras sempre foi um clube de vanguarda, mas tem retrocedido em termos de transparência, seja no que diz respeito às nossas finanças ou aos nossos processos de governança. Estamos bem atrás de outros clubes brasileiros, que já disponibilizam todo conteúdo para seus torcedores, investidores, parceiros e sociedade, de forma ampla e didática.

Solicitamos, finalmente, que os questionamentos aqui apontados sejam respondidos pela Presidência do Conselho Deliberativo em até 15 dias corridos após o recebimento desta carta, podendo ser divulgados publicamente, se assim
desejado.

Atenciosamente.
 

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