Destaque na Bélgica, Felipe Augusto relembra tempos de Corinthians: "Anos maravilhosos"
Por Iúri Medeiros
São Paulo, SPApós começar sua trajetória no futebol em São Bernardo, seguido por uma passagem pelo São Caetano, Felipe Augusto chegou ao Corinthians com apenas 12 anos de idade, em 2017. Filho do Terrão, o centroavante passou por diferentes categorias até se consolidar no profissional em 2023.
"Foram anos maravilhosos no clube. Fiz amigos, companheiros, conheci pessoas, ganhei títulos, me acolheram, me deram oportunidade", iniciou Felipe. Em seguida, o jogador citou como, em determinado momento, teve que defender diferentes categorias da base é até mesmo o profissional simultaneamente, o que acabou prejudicando de certa forma sua formação.
"Com 17 anos, em quatro meses, atuei pelo sub-17, sub-20, profissional e sub-23. Foi muito doido para mim. Mexe muito com a mente, já que quando se é novo, você quer estar no profissional, aprender, se envolver. Aí você migra constantemente, isso prejudica. Mas isso também me fez amadurecer muito, foi aí que vi que eu sempre tenho que estar pronto para tudo. Foi um período de muitos jogos, muitos técnicos, esquemas táticos diferentes, cada treinador quer uma coisa, passa uma instrução… acabou que me prejudicou muito minha transição. Vejo que ela foi.. não digo mal feita, pois eu dei certo, mas foi mal programada, sabe? Isso mexe muito com a mente, com o corpo em si. Em alguns períodos, eu praticamente só jogava; em outros, só treinava e acabava perdendo ritmo de jogo", comentou o jogador de 20 anos à reportagem.
Após sofrer uma lesão no ombro no final de 2022, Felipe viveu seu auge pelo sub-20 no primeiro semestre de 2023, com 13 gols em 15 jogos disputados. Seu bom rendimento chamou atenção da equipe profissional, e por lá ficou com diferentes técnicos.
"Tive dois meses de treinamento até a Copa São Paulo, onde tive tempo, e fui bem. Me preparei, fiquei apenas no sub-20, e na Copinha fiz quatro gols e uma assistência em cinco jogos. Mesmo assim, não fui para o profissional. Mas não deixei de trabalhar, continuei com foco, me dedicando ao sub-20, sem querer me iludir, pensar no profissional. Continuei bem, fazendo gols. Em abril, o Danilo foi dirigir o time de cima, naquela transição depois do Cuca, e em um jogo contra o Palmeiras ele me convocou. Fiz grandes treinos com eles e fiquei por lá", disse Felipe, fazendo menção ao Derby que o Timão perdeu por 2 a 1, no Allianz Parque.
O jovem aproveitou para falar do 2023 complicado do Corinthians dentro das quatro linhas. A equipe não conquistou nenhum título e lutou contra a zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Na última temporada, pelo time de cima, Felipe participou de 21 jogos e marcou dois gols (contra Liverpool-URU e Universitario-PER).
"Coletivamente, é complicado falar algo. Foi um ano de muitas transições, sabe? De treinador, elenco, tivemos muitas contusões importantes na equipe durante o ano. Para o tamanho do Corinthians, quando você não briga por títulos, claro que é um ano ruim, péssimo. O Corinthians tem que brigar por títulos sempre. Quando você tem quatro, cinco treinadores, é complicado. É muita troca. Um técnico quer uma coisa, aí o outro não gosta disso, o outro quer outra coisa. Isso, junto com as lesões que tivemos, complicaram para que a equipe tivesse resultados", comentou.
Felipe tinha situação estável no Corinthians, sendo peça no elenco, mas perdeu minutagem na reta final de 2023 com Mano Menezes. A perda de espaço, somada com o sonho de jogar pelo Velho Continente, pesaram para sua decisão de deixar o clube que o revelou.
"A decisão em si foi mais pelo meu sonho de estar na Europa, de estar perto das grandes ligas, dos times tops e evoluir aqui. A proposta veio no meio do ano passado, mas eu estava focado no Corinthians. Eu vi que estava tendo tempo e minutagem para me desenvolver, aprender. Em um primeiro momento não quis ir, era o substituto de Yuri Alberto e me comprometi com a equipe. Em quatro jogos como titular, fiz dois gols, um na Libertadores e um na Sul-Americana", disse.
"Mas percebi que no final do ano, não estava tendo muita minutagem, oportunidades. Prezei pelo meu sonho, para ter tempo e me desenvolver na Europa. Aqui estou tendo tempo, suporte, estou evoluindo em campo, com mais minutagem, oportunidades. Estou realizando um sonho, que é estar aqui", complementou.
Felipe, ao longo de toda sua carreira, sempre jogou como centroavante. O jogador se consolidou como pivô, forte no jogo aéreo e com boa finalização. Mas na Bélgica o jovem ganhou espaço como meia-atacante, atuando atrás do homem mais avançado. Não por acaso, o atleta é o camisa 10 do time que ocupa atualmente a 5ª colocação do Campeonato Belga.
"É muito doido. Quando você fala meia, até eu paro para pensar em como é diferente. Já tinha treinado assim no Corinthians, mas nunca havia atuado assim. Não tive essa oportunidade no Corinthians, no Brasil em si. Eu vim para cá no começo de janeiro, eles me avaliaram na pré-temporada, viram meus treinos, minha qualidade… Aqui é um jogo bem vertical, sabe? E o meia é um cara que está sempre perto do nove, sempre ali. E aí eles avaliaram meus treinos, minhas qualidades, e foi aí que tiveram a ideia. Tivemos uma reunião e eles perguntaram o que eu achava disso. Eu concordei, eu sou um cara que quero sempre estar em campo, quero aprender, crescer. Vi como uma oportunidade de estar em campo, de aprender uma nova função. Só tinha a acrescentar na minha carreira. Fui aos jogos nessa posição e fui bem, com boas participações", comentou.
Felipe Augusto tem contrato até junho de 2028 com o Cercle Brugge e espera se consolidar ainda mais no futebol local. O atleta quer se adaptar o mais rápido possível ao idioma e a um jogo que ele considera mais "vertical" do que estava acostumado.
Mesmo à distância, Felipe acompanha as notícias do Corinthians e fala com ex-companheiros de clube. Ao todo, o atacante deixou o Timão com 29 jogos no profissional e um título na base, o Campeonato Paulista sub-17 de 2021.
"Foram oito anos de Corinthians, claro que tenho muitos amigos lá. Sempre falo com eles. Claro, tem o fuso horário, os jogos no Brasil são bem tarde aqui. Mas sempre quando posso estou acompanhando, assistindo, conversando com os amigos que criei lá. Sendo um cara que cresceu no clube, viveu lá, não teria como vir para cá e largar de mão. Sempre que posso, acompanho e falo com meus amigos", finalizou.