Augusto nega culpa no caso Rojas, mas envolvidos confirmam participação do presidente do Corinthians - Gazeta Esportiva
Augusto nega culpa no caso Rojas, mas envolvidos confirmam participação do presidente do Corinthians

Augusto nega culpa no caso Rojas, mas envolvidos confirmam participação do presidente do Corinthians

Gazeta Esportiva

Por Tiago Salazar

29/06/2024 às 11:34 • Atualizado: 29/06/2024 às 12:57

São Paulo, SP

O Corinthians foi condenado pela Fifa, na última quinta-feira, a pagar R$ 40,4 milhões a Matías Rojas, que deixou o clube no fim de fevereiro devido ao não recebimento de valores referentes a direitos de imagem. Atualmente, o paraguaio defende o Inter Miami, nos Estados Unidos.

A diretoria do Corinthians vai recorrer da decisão na Corte Arbitral do Esporte (CAS) e a estimativa é de que o caso seja resolvido só daqui a dois anos.

Rojas pôde solicitar a rescisão por causa de uma cláusula inserida na novação do acordo, em janeiro, para pagamento dos valores atrasados. A cláusula em questão dava a Rojas a liberdade para deixar o Timão se o clube não cumprisse com o pagamento, mais uma vez. E, assim, aconteceu.

O Corinthians parcelou a dívida de Rojas, mas já em fevereiro não pagou a segunda parcela. O jogador, então, acionou a cláusula e nunca mais apareceu no CT Joaquim Grava.

PODE PIORAR
A Gazeta Esportiva apurou que, além da cláusula pertinente ao inadimplemento, nesta mesma novação da dívida, o Corinthians também aceitou uma cláusula de mitigação.

Na prática, isso significa que Rojas ganhou a possibilidade de cobrar todos os valores do contrato dele com o Corinthians, tanto a dívida passada quanto o que ele ainda teria a receber até 2027.

Além disso, por causa desta cláusula de mitigação, o Corinthians não vai poder usar o novo contrato de Rojas, feito com o Inter Miami, como argumento na Fifa para abatimento do valor daquilo que o Timão terá de pagar ao jogador. Essa é uma prática comum e costumeiramente aceita em processos semelhantes, porém, o Corinthians aceitou em não ter essa possibilidade.

Tem mais: a Fifa foi acionada no dia 28 de fevereiro e, a partir desta data, os juros de, aproximadamente, 5% sobre R$ 40,4 milhões começaram a correr. Isso representa cerca de R$ 2 milhões ao ano. Estes valores serão adicionados à sentença ao fim do processo.




CONFLITO DE VERSÕES
Augusto Melo imputa a culpa pela situação a Rubens Gomes, o Rubão, que à época ocupava o cargo de diretor de futebol.

"O Augusto não participou de nenhuma reunião, nem com o Rojas e nem com nenhum jogador que o Rubão contratou. A assinatura do contrato foi feita porque ele (Augusto) confiava (em Rubão), e falaram que estava tudo certo", afirmou a assessoria do presidente, em nota enviada à Gazeta Esportiva.

A versão de Augusto Melo, no entanto, diverge do que dizem outros três participantes da negociação: Rubão, Rafael Botelho (advogado de Rojas) e Rozallah Santoro (diretor financeiro do clube na ocasião dos fatos).

Rubão falou sobre o caso no Mesa Redonda, da TV Gazeta, no dia 5 de maio, logo depois de ser demitido por Augusto.

"Tudo isso o Augusto estava junto. Ele sabia disso. Nós aceitamos (a cláusula). Nós conversamos, fizemos uma ligação, junto com o Rafael (advogado de Rojas), e ele (Augusto) disse assim: 'você (Rafael) vai se surpreender com a nossa gestão, porque vamos cumprir com o que estamos prometendo. Pode colocar, que eu vou pagar'".

Rafael Botelho, representante e advogado de Matías Rojas nesta discussão com o Corinthians, procurado pela reportagem, confirmou a versão de Rubão.

"Isso é verdade, o Augusto sabia de tudo, participava, falou comigo, participou por vídeo de uma reunião, sabia da cláusula. Fizemos o acordo pra pagar em seis vezes, sem juros, sem correção, sem multa, parcelas iguais, tudo para ajudar o clube. E o Augusto me disse 'Agora, aqui tem palavra, eu cumpro, pode mandar o contrato'".

O vencimento da parcela de Rojas casou com o momento em que o Corinthians decidiu demitir Mano Menezes e contratar António Oliveira. Mas, para António poder trabalhar, o Timão precisava pagar uma multa de R$ 1,04 milhão ao Cuiabá e também depositar a primeira parcela de R$ 1 milhão do acordo feito com Mano.

"Tinha dinheiro. Mas, tinha que pagar uma multa do António e uma multa do Mano. Esse dinheiro foi usado para isso, com autorização do presidente, que chegou ao financeiro e disse: 'vamos pagar esses, depois eu tenho mais dias para arrumar esse dinheiro'", contou Rubão ao Mesa Redonda.



A Gazeta Esportiva procurou por Rozallah Santoro, que já deixou a gestão Augusto Melo, mas era quem respondia pelo departamento financeiro à época.

"Era comum as pessoas me procurarem e eu ter de explicar que não tinha aquela receita naquele momento. A gente trabalhava com um fluxo diário de receita. O valor que o clube tinha em caixa naquele dia estava reservado para o Rojas e houve a solicitação (do presidente) para pagar a multa do António, para que ele pudesse estar no banco (de reservas), no domingo", explicou Rozallah, referindo-se ao jogo que o Corinthians fez contra a Portuguesa, pelo Campeonato Paulista, e venceu por 2 a 0, na Neo Química Arena.

Após isso, o Corinthians conseguiu convencer Rojas a esticar o prazo de pagamento. O jogador aceitou, mas, novamente, o clube não cumpriu com a promessa feita.

"Chegou o dia de pagar, mas o clube não tinha o valor no caixa. Tinha o valor para pagar a parcela do Refis (Programa de Refinanciamento Fiscal do Governo Federal), que é a prioridade sobre tudo, porque um eventual atraso pode gerar um problema muito grande. Pagamos o Refis e não conseguimos pagar o Rojas. Foi isso", concluiu Rozallah.

O INÍCIO DE TUDO
Na contratação de Matías Rojas, em 2023, o Corinthians combinou de pagar US$ 1,8 milhão ao jogador em três parcelas, não iguais, nos meses de julho, setembro e dezembro.

O Corinthians sempre manteve o salário do meia em dia, daquilo que estava previsto em CLT, e chegou a pagar impostos das notas fiscais emitidas pelo atleta. As três parcelas, no entanto, não tiveram os depósitos feitos.

O valor chegou a R$ 5 milhões e a promessa final da gestão comandada por Duilio Monteiro Alves foi de fazer o pagamento no dia 26 de dezembro, o que também não aconteceu.

"Havia uma previsão de que o acordo original com a Brax depositasse o primeiro aporte na conta do Corinthians por volta de 20 de dezembro, o que nos permitiria quitar, dia 26 de dezembro, compromissos como o de Matías Rojas. Porém, o presidente Augusto Melo brecou o depósito da Brax, impedindo que isso ocorresse. Fiz questão de explicar à gestão atual minha preocupação com o caso do Rojas, já que o estafe dele voltou a fazer cobranças, após o descumprimento da previsão de pagamento em 26 de dezembro", justificou Wesley Melo, diretor financeiro da gestão Duilio, em nota enviada à Gazeta Esportiva.



"Por isso decidimos emitir nota oficial publicada em 29 de dezembro, ainda em nossa administração, quando nos referimos às receitas de R$ 100 milhões que entrariam no caixa do clube já em janeiro de 2024, referentes à negociações de Murilo e Felipe, a iminente venda de Moscardo e acordos publicitários, como o da Brax", continuou Wesley.

"A gestão Augusto Melo decidiu renegociar Brax e Matias Rojas, mas não conseguiu usar os recursos previstos para resolver as pendências. E não dá pra entender como a atual diretoria aceitou incluir uma cláusula de multa com o pagamento imediato da totalidade do contrato após um descumprimento de prazo de uma única parcela, perdendo o jogador e dando brecha para litígio na FIFA, que até o momento está nos causando prejuízos na ordem de 40 milhões. Nenhum dos contratos que assinamos tinha uma cláusula tão nociva", concluiu o ex-dirigente.

PROPOSTA IGNORADA
A defesa de Rojas começou a negociar os atrasos dos pagamentos no segundo semestre de 2023 e fez a primeira notificação oficial em dezembro. Após isso, até o fim de feveiro, por diversas vezes, o Corinthians prometeu prazos, que nunca foram cumpridos.

Nesse período, o valor saltou de R$ 5 milhões para R$ 8 milhões. Rojas aceitou receber em seis parcelas, sem juros, mas viu cair na conta apenas a primeira delas.

Mesmo depois de deixar o clube e ir à Fifa, Rojas, por meio de seu advogado, abriu a possibilidade de um acordo amigável sobre os R$ 8 milhões, com prazo maior, no intuito de cada um "seguir sua vida sem processos judiciais", mas, como em outras oportunidades, segundo Rafael Botelho, o clube ignorou as mensagens e os e-mails enviados, algo que sempre gerou irritação no estafe.

 

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