Prata paralímpico, Renato Cruz deve deixar Metrô para focar no esporte - Gazeta Esportiva
Prata paralímpico, Renato Cruz deve deixar Metrô para focar no esporte

Prata paralímpico, Renato Cruz deve deixar Metrô para focar no esporte

Gazeta Esportiva

Por Fernanda Silva

06/08/2017 às 09:30

São Paulo, SP

Equipe brasileira teve Renato Cruz, Yohansson Nascimento, Petrúcio Ferreira e Alan Fonteles (Foto: Divulgação/Brasil 2016)


Há um ano, o Brasil mostrava-se para o mundo. Era a abertura dos Jogos Olímpicos, a chance dos donos da casa subirem ao pódio diante de sua torcida. E subiram. Foram 19 medalhas na olimpíadas e 72 conquistadas por paratletas. Um deles era Renato Cruz, primeiro personagem de uma série especial da Gazeta Esportiva.com sobre o legado deixado pelo Rio 2016. A chegada dele no esporte paralímpico foi acaso ou destino, mas garantiu uma prata.

Em novembro de 2004, a vida de Renato Cruz mudou — de corpo e alma. Ele sofreu um acidente de trabalho durante a manobra de um guindaste no Metrô e perdeu a perna esquerda. Iniciava-se um novo capítulo em sua vida. Era hora encontrar uma maneira diferente de encarar a si mesmo.

“No meu processo de reabilitação, comecei a fazer caminhada, para restabelecer um começo para minha jornada como amputado. Eu estava gordo, grande e precisava melhorar minha qualidade de vida”, conta o atleta. Dos passos curtos e lentos, Renato avançou. Passou a treinar com maior frequência e os passos tornaram-se largos e rápidos. A velocidade o levou a locais inimagináveis até aquele momento. O bom desempenho nas pistas de atletismo fizeram Renato conhecer o mundo.

As viagens para competições eram bancadas com o dinheiro que ele economizava da Bolsa Atleta, programa do Governo destinado a pessoas com bons resultados e, no caso dele, com deficiência. “Nunca deixei a renda da Bolsa entrar nos meus gastos familiares”, relata. Para conseguir pagar as contas de sua família, seguia trabalhando no Metrô. Mas se viu obrigada a sair temporariamente do emprego fixo quando chegou ao auge de sua vida esportista: Renato foi convocado para o Rio 2016. Antes de embarcar para a competição, pediu licença - sem remuneração - para o Metrô, onde trabalha desde os 19 anos, e assim pôde se dedicar ao esporte. “Eu acho que se eu não tivesse sido convidado a ir ao Rio 2016, muita coisa não estaria acontecendo na minha vida. Estou vivendo algo incrível, que eu nunca pensei em viver”, conta, ainda ofegante, após treinar no Sesi de Santo André, na Grande São Paulo.

Na época e ainda hoje, ele faz parte do programa Bolsa Atleta, organizado pelo Ministério do Esporte. O projeto beneficia 17 mil atletas e paratletas brasileiros com valores mensais que variam entre R$ 370,00 e R$ 15 mil — o mais baixo para atletas de base, o mais alto, para medalhistas.

O Brasil conquistou prata com a desclassificação dos EUA (Foto: Fernando Maia/MPIX/CPB)


Renato foi a capital mineira participar do principal evento esportivo do mundo. No quinto dia de competições da Paralimpíadas, em 12 de setembro de 2016, ele correu o revezamento 4x100, ao lado de Yohansson Nascimento, Alan Fonteles e Petrúcio Ferreira. No Engenhão, os atletas chegaram na terceira colocação, mas após desclassificação dos Estados Unidos, garantiram a medalha de prata. Outra reviravolta na vida de Renato.

De volta a São Paulo, foi contratado pela equipe do Sesi e hoje recebe um salário do grupo.  Entretanto, seu vínculo com o Metrô não acabou. Em novembro, deve retornar seu trabalho.  “Mas eu não sei se retornarei”, conta.

Renato ao lado de sua família (Foto: Reprodução/Facebook)


Apesar de se preocupar com a falta de estabilidade enfrentada por atletas brasileiros, aos 46 anos e pai de dois filhos, Renato tem, hoje, uma renda familiar que inclui o salário do Sesi, a bolsa do Governo, dinheiro cedido algumas empresas que o apoiam e a remuneração da esposa.

O contrato com o clube e a Bolsa são renovados anualmente, e isso aflige o paratleta. “Pode ser que não sejam mais uma realidade em 2018. Ao mesmo tempo, eu tenho que sustentar a família, mas o Metrô é limitante para mim nessa construção de sonho que eu tenho, de continuar lutando pelo atletismo”, relata. “Viver praticando uma modalidade não é fácil. Para uma vida com dignidade e tranquilidade, é difícil. Acho que não dá”, conclui.

Confira, nesta segunda-feira, a segunda parte do especial sobre o Legado Olímpico

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