Igor Paixão se pronuncia após ser chamado de "descendente de escravos" por jornal espanhol - Gazeta Esportiva
Igor Paixão se pronuncia após ser chamado de "descendente de escravos" por jornal espanhol

Igor Paixão se pronuncia após ser chamado de "descendente de escravos" por jornal espanhol

Gazeta Esportiva

Por Redação

29/11/2023 às 15:52

São Paulo, SP

Por meio de sua conta no Instagram, Igor Paixão se pronunciou nesta quarta-feira após sofrer racismo do jornal espanhol AS. O atacante do Feyenoord, da Holanda, publicou um texto em tom de indignação pelo ocorrido.

"Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso", escreveu em sua manifestação.

Em uma matéria de apresentação do atacante, foi utilizado na manchete o termo "descendente de escravos". Após a repercussão negativa, o jornal optou por apagar a reportagem, que tinha o objetivo de informar sobre o destaque do time holandês, adversário do Atlético de Madrid na quinta rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões.

"Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais", complementou.




A crítica ao jornal pelo texto foi relacionada justamente ao cunho racista do título. O jogo terminou em derrota do Feyenoord, que não tem mais chances de classificação para as oitavas de finais.

Revelado pelo Coritiba, Igor Paixão é um dos principais jogadores do time da Holanda. Na temporada 2023/24, são 19 jogos, com três gols e três assistências.

Veja o pronunciamento de Igor Paixão na íntegra: 

Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam.

Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações.

Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo.

Mas nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e discarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si.

Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso.

Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo "não-tão-velado": o descendente de escravos.

Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a "ameaça" que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo.

Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais.

Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós.

Sutis, como são, dirão que "entendi errado o contexto", e irão disfarçar "tirando o texto do ar", e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo.

Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos.

Racistas jamais passarão. 

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