Sem sua estrela, Argentina busca uma luz para recomeçar frente ao Brasil
Por Redação
São Paulo, SPUm ciclo rodeado por insucessos, três treinadores questionados, uma classificação para o Mundial conquistada “sob aparelhos”, o constante questionamento sobre Lionel Messi e a falta de capacidade da formação de um time. São muitas as justificativas para a manutenção do jejum que ultrapassa os 25 anos sem título, mas a verdade é que há esperança nos pés de uma nova geração, em grande parte preterida por Jorge Sampaoli, mas considerada o centro do trabalho de Lionel Scaloni, o escolhido. É assim, tentando ajustes com o carro andando, que a Argentina inicia sua caminhada rumo ao Catar-2022.
Treinador da seleção sub-20, Scaloni terá ao seu lado uma dupla de muito respeito para iniciar um trabalho que não se sabe ainda se será definitivo. Junto com os ex-jogadores Walter Samuel e Pablo Aimar, o jovem comandante "ganhou" a responsabilidade de liderar um projeto após negativas dos principais nomes especulados pela AFA, que foram desde os caseiros Marcelo Gallardo e Ricardo Gareca até os renomados Mauricio Pochettino, Diego Simeone e Pep Guardiola.
A crise do comando técnico: Martino, Bauza e Sampaoli, o vilão
O vice-campeonato em 2014, em pleno Maracanã, deu pistas e indícios de que havia uma base pronta para os quatro anos seguintes. Alejandro Sabella deixou tudo encaminhado, fez de Messi um líder ao menos dentro das quatro linhas, algo que nenhum comandante conseguiu antes dele. E se o camisa 10 era o pilar do ciclo, nada melhor que um ex-treinador seu em tempos de Barcelona: Gerardo Martino.
O problema: o entorno. Foram dois vice-campeonatos nas Copa Américas de 2015 e 2016, um rendimento satisfatório dentro de campo e apenas três derrotas em 29 jogos. Mas os bastidores minaram o trabalho. Martino sofreu com salários atrasados e pediu demissão em rota de colisão com a diretoria da AFA. Solução: Edgardo Bauza, que deixou o São Paulo pelo “sonho”. Entretanto, diferentemente de seu antecessor, não conseguiu nem 10 jogos no cargo e foi demitido.
Antes salvador da pátria, Jorge Sampaoli se mostrou uma aventura com sentido, mas sem sucesso. A expectativa acabou se desenhando tão grande quanto a decepção. Mesmo com pouco tempo e precisando colocar a Albiceleste na Copa da Rússia, o argentino não abdicou de suas ideias e foi salvo por uma atuação de gala de Messi frente ao Equador, na última rodada das Eliminatórias, para garantir a tão chorada vaga.
Na Copa do Mundo, o fiasco variou entre o campo e os bastidores, desde decisões questionadas na convocação, como as ausências de Mauro Icardi e Lautaro Martínez, até os relatos de demissão de Sampaoli em plena disputa da competição e um racha completo com os líderes do elenco. O resultado disso, um time sem rumo, sem comando e liderado pelos jogadores. Alguns, aliás, que decidiram repensar sua continuidade na seleção.
“Em reconstrução”, elenco tem indefinição quanto a continuidade de estrelas e Messi
Contra o Brasil, a principal ausência da Argentina, claro, é a de Lionel Messi, que optou por não ser mais convocado em 2018. Se um dia voltará... não se sabe. A verdade é que o desfalque é apenas um entre muitos, alguns que se aposentaram, no caso de Mascherano e Biglia, e outros que seguem fora da lista por opção pessoal, casos de Aguero e Di María.
Mais do que uma pífia campanha em solo russo, a decisão de alguns dos principais pilares de repensar a carreira na seleção representa uma prova de que a seleção Albiceleste está em reconstrução. Ao que tudo indica, se aproxima de um fim a geração que criou esperanças após o bicampeonato olímpico e o vice na Copa de 2014, mas que nunca conseguiu se concretizar como um grupo realmente vencedor.
Diferentemente do que seria o ideal, o processo de renovação da seleção se mostra necessário e da forma mais dinâmica e rápida possível. Para isso, foi acionado Scaloni, ex-treinador da seleção sub-20. Na primeira convocação, apenas oito atletas do Mundial de 2018 mantidos e, agora, para o duelo diante do time de Tite, mais testes, que serão um vestibular para a decisão tanto da continuidade da comissão técnica quanto do rumo que será tomado.
A crise política na AFA, os resquícios no cenário nacional e dentro das quatro linhas
Entender o momento da Associação de Futebol Argentino requer, ao mesmo tempo, cuidado e paciência. Apesar de sinais de que a crise atual é apenas uma consequência de décadas de má gestão, a verdade é que o momento conturbado teve início na decisão da sucessão do polêmico Julio Grondona, que presidiu a entidade entre 1979 e 2014, ano de sua morte.
Primeiro, eleições canceladas. Depois, criação de uma Superliga de clubes em forma de protesto à entidade, seguida de alertas da Fifa quanto a possibilidade de intervenção e a concretização do ato, disfarçado pelo nome de comissão normalizadora. Quatro anos depois, a crise se mostra efetiva no quadro político. Hoje, a AFA é presidida por Cláudio 'Chiqui' Tapia, presidente do modesto Club Atlético Barracas Central, ligado ao sindicato dos caminhoneiros argentinos e que assumiu o cargo em março de 2017 prometendo evolução.
Nome desconhecido no meio do futebol Sul-Americano, Tapia foi jogador e comanda a federação local com a aliança e os conselhos de uma organização de peso, rodeada por mandatários. Hugo Moyano, seu sogro e presidente do Independiente, é seu braço direito, com Daniel Angelici, mandatário do Boca Juniors, sempre ao lado para a tomada de decisões. Todos esses, com ótima relação com o presidente do país, Mauricio Macri, nome ligado ao Boca Juniors.
Em resumo, testes e mais testes a fim de um caminho
Desde o início do ciclo após o Mundial, porém, os resultados da seleção argentina têm criado certa expectativa, com a ressalva do nível dos adversários. 3 a 0 sobre a Guatemala, um empate contra a Colômbia e uma goleada sobre o Iraque. Tudo isso, liderada justamente pelos jovens, como Lo Celso, Lautaro e Giovanni Simeone.
A verdade é que os dias que já foram de glória hoje são de busca incessante por um rumo, uma luz, algo que indique o que deve ser feito. O calvário da Argentina após o vexame na Copa do Mundo da Rússia parece não ter encontrado, ainda, o fundo do poço, ao mesmo tempo que caminha para uma solução caseira, com Scaloni. Sem pilares, sem respaldo e sem um projeto definido, a Argentina tenta em meio ainda a uma crise política voltar a levantar uma taça.