No ano em que completa 110 anos de história, o Palmeiras ganhou mais um torcedor. E este é diferente dos outros. Ele é carismático, famoso na vizinhança e tietado por onde anda. Trata-se do porco Evair da Guia, da raça Mini porco.
O porquinho tem apenas cinco meses de idade e foi comprado por Leandro, um palmeirense fanático que decidiu adotar a mascote do seu clube para ajudar um colega de trabalho em sua loja de colchões.
“Eu sou palmeirense roxo e contratei um deficiente visual na minha loja que também é fanático. Aí, pensei: ‘Por que não um porco-guia ao invés de um cão?.’ É o nosso mascote. Fui atrás de um porco pequeno. Não poderia ser grande, porque chega a 300kg. Esse vai chegar, no máximo, a 45kg. O que já é coisa também (risos)”, disse à Gazeta Esportiva.
“Comprei e pedi para que um adestrador o ensinasse a acompanhar o deficiente visual. Ele está indo super bem. Tem uma inteligência extraordinária”, ampliou.
O nome do porco, claro, é a junção de dois ídolos do Palmeiras: Evair e Ademir da Guia. Descendente de italianos, o palestrino guarda com carinho na memória o título do Campeonato Paulista de 1993, quando acabou um jejum de 16 anos sem troféus. Desde então, Evair virou um ídolo para Leandro. Ademir, por sua vez, é o maior jogador da história da equipe alviverde, com mais de 900 jogos, 155 gols e 12 títulos.
“O Palmeiras sempre foi a nossa paixão. Eu ia no Parque Antártica desde pequeno. Em casa, todos sempre foram palmeirenses. Nossa idolatria é o Palmeiras. Isso me motivou também a ir atrás do porquinho. É um bichinho extraordinário, adorável e muito amigável”, relatou Leandro.
O porco, no entanto, parece mesmo ter puxado o temperamento de Abel Ferreira. Assim como o técnico alviverde na beira do campo, Evair da Guia não para quieto um minuto. O animal anda sem parar pela espaçosa casa de Leandro, sempre em busca de alguma coisa para comer.
No quarto do dono, quem manda mesmo é Evair. O cômodo é tomado pelos seus brinquedos. São diversos porcos de pelúcia. Um deles, aliás, é personalizado com o seu rosto. E, na hora de dormir, Leandro tem que dividir a cama com o companheiro, lógico.
O comerciante de 45 anos também costuma levar o pet para passear por São Paulo. Apesar de morar em um reduto de corintianos, Evair faz sucesso nas ruas do bairro Arthur Alvim, na Zona Leste de São Paulo. Mas é ainda mais tietado quando atravessa a cidade.
Leandro tem o hábito de levar o porco para shoppings e para a porta do Allianz Parque. Mesmo sem ingresso, eles vão ao estádio e causam furor durante o pré-jogo. Muitos pedem para fazer fotos ou vídeos e caem na gargalhada com os sons emitidos pelo animal.
“Ele faz um grande sucesso, parece uma celebridade. É a atração onde vai e abre sorrisos em pessoas de qualquer idade e gênero. É uma coisa inusitada. Pouca gente conhece. Parece que é um bichinho de outro planeta. A turma fica admirada, quer tirar foto e filmar. Até torcedores do outro clube querem tirar fotos”, disse
Evair da Guia também já viveu experiências dentro da casa palmeirense. O pet fez o tour do Allianz Parque e assistiu a duas partidas nas arquibancadas. E é pé quente. Ou melhor, pata quente! São duas vitórias, sendo uma contra o Red Bull Bragantino, por 2 a 1, e outra diante do Bahia, por 2 a 0, ambas pelo Campeonato Brasileiro de 2024.
Pode porco no estádio?
Mais do que um animal de estimação, Evair da Guia é um porco-guia. Assim como um cão-guia, ele ajuda um deficiente visual a se locomover. Para isso, faz aulas de adestramento semanalmente e passa constantemente por consultas com a veterinária. O beneficiado é Alemão, amigo e companheiro de trabalho de Leandro.
Alemão tem 48 anos e é testador de colchão. Palmeirense fanático, sempre teve o desejo de ir ao estádio, sonho realizado graças à ajuda de Evair da Guia. Ele esteve nos dois compromissos citados acima e amou a experiência.
“Esse porquinho é show de bola, muito inteligente. Desvia dos postes, das cadeiras… Ajuda muito, é fenomenal. Eu vou na loja de colchões e ele me ajuda. Desvia dos colchões, me leva até o certo. É um barato”, contou à reportagem.
“Fomos em dois jogos e foi sensacional. Eu tenho baixa visão severa, preciso andar com bengala. Lá dentro, estava meio escuro e ele desviava dos móveis, das pessoas… Quando fomos fazer a visita, também foi muito legal. Ele queria indicar onde tinha a escada. No elevador, também me ajudou. É uma coisa absurda”, completou.
Para conseguir levar Evair da Guia ao estádio, Leandro não teve uma missão fácil. O Palmeiras e o Allianz foram compreensivos e não criaram problemas, mas lidar com a Polícia Militar foi mais complicado.
“Teve uma dificuldade. Tivemos que convencer o pessoal do Palmeiras, do Allianz Parque e a Polícia Militar. É novidade no Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos, já está acontecendo. Aqui, ainda não. Levei os documentos dele, que é adestrado e tudo mais. A Polícia questionou muitas coisas. Tivemos dificuldades, mas entramos”, finalizou.
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Origem do mascote
O porco demorou para se tornar mascote do Palmeiras. Antes, eram os rivais que chamavam o clube de porco, como forma de provocação. Em 1986, no entanto, a torcida do Verdão decidiu adotar o mascote durante uma partida contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, com gritos de “dá-lhe porco”.
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— SE Palmeiras (@Palmeiras) January 24, 2024
Desde então, a figura do animal ficou cada vez mais relacionada com o Palmeiras. Até mesmo jogadores já até utilizaram uma máscara de porco para celebrar gols. O precursor foi Paulo Nunes, atacante que jogou na equipe de 1998 a 1999.
Em 2024, Rony repetiu o ato justamente na vitória contra o Bahia, quando Evair da Guia estava na arquibancada. Nos assentos do Allianz Parque, também é comum ver fãs com adereços de porcos.
Hoje, portanto, o Verdão completa 110 anos de história e carrega, Brasil afora, o porco com orgulho, seja como mascote, vestimenta ou animal de estimação.