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Foto: ©Rodrigo Gazzanel / Ag. Corinthians

Tiago Nunes admite arrependimento e maior dificuldade como técnico do Corinthians

Gazeta Esportiva

Por Redação

São Paulo, SP
Tiago Nunes chegou ao Corinthians no início do ano, mas acabou demitido nove meses depois. A passagem foi turbulenta, de polêmicas fora de campo, resultados ruins, com o agravante causado pela pandemia do coronavírus.

Nesta terça-feira, o técnico admitiu que a condução do trabalho, da maneira que ele mesmo se propôs a fazer, talvez não tenha sido a ideal para o momento.

“Talvez, esse tenha sido um erro crucial meu, durante muito tempo investindo mais tempo na gestão do que no campo. Onde você divide força, energia, acaba enfraquecendo um lado, e entendo que o campo ficou prejudicado”.

“O que fica de lição é que em clubes como Corinthians, como em outros grandes, você primeiro tem que pensar no resultado, entregar uma razão pública sobre o trabalho, para depois pensar nas relações internas, construções. Não é uma crítica ao Corinthians, e sim ao futebol brasileiro”.

As afirmações foram dadas à Espn Brasil. Ainda durante a entrevista, Tiago Nunes também reconheceu que não conseguiu encontrar o encaixe ideal para o time corintiano, que ora apresentava mais desafios na defesa e ora apresentava problemas no ataque.

“A dificuldade foi encontrar o equilíbrio. Essa foi minha grande dificuldade”.

Nesse ponto, porém, Tiago Nunes deixou claro que o contratempo passou muito pelo elenco que ele tinha à disposição.

“Conceitualmente, a gente estava conseguindo construir boas ideias, no feedback, a gente tinha o retorno dos atletas, mas no momento mais importante, que é o jogo, não estava acontecendo. Esse era um desafio nosso até então, porque havia o distanciamento da prática no treino e da execução no campo era claro”.

“Não tenho a reposta exata para isso. O que posso dizer é que só as ideais não bastam, tem que ter uma nova postura dos atletas, muitas vezes mudar os atletas. A gente não conseguiu mudar de maneira significativa a característica dos atletas, teríamos de ter mais tempo, ou fazer como outros clubes fazem, com investimento, tem o Atlético-MG esse ano, Flamengo ano passado. Tenho a responsabilidade total sobre as ideias, acreditei que era possível fazer, o Corinthians passa por dificuldades tremendas financeiras, sem condições de contratar grandes jogadores”.

Confira outros trechos da entrevista de Tiago Nunes:


Trabalho interrompido/controle de vestiário
“Tem coisas que não podem ser direcionadas a mim, e sim a direção. A gente desenvolveu um trabalho muito transparente, sempre muito franco, cobramos quem tinha que cobrar, elogiamos quem tinha que elogiar, fomos honestos 100% do tempo”.

Ciência das dificuldades financeiras
“Não, das dificuldades financeiras eu não sabia, até porque teve um agravante, que foi a pandemia, que agravou os investimentos neste sentido. A diretoria se esforçou, muitos jogadores foram oferecidos, demos muitas negativas, acreditávamos que o Corinthians precisava de jogadores a nível europeu, a gente não aceitou muitos jogadores que a gente entendia que estavam numa prateleira abaixo, em alguns momentos dissemos não a jogadores que poderiam fazer parte deste elenco, porque esperávamos algo a mais”.

Sobre perceber que seria demitido
“Eu tenho 22 clubes na carreira, mais de 20 anos no futebol, e as pessoas acham que esses cabelos brancos são só genética. Foram muitos anos de estrada, e a gente começa a entender quando começa a ter sinais, pessoas começam a falar menos, não é primeira vez que acontece. Pra mim, era claro que se não tivesse resultado positivo contra o Palmeiras, o trabalho seria interrompido. E faz parte. Tenho certeza que o clássico acabou sendo o balizador, porque se vence, dá uma paziguada, ganha fôlego, mas da maneira que aconteceu, jogador expulso, pênalti, o time perdeu energia, força, auto-estima acabou caindo. Por mais que você tenha ideias claras, chega um momento que a confiança é fundamental, e confiança você adquire de várias maneiras, com diálogo, trabalho e também com resultado, e quando ele acaba não vindo, naturalmente se encaminha para o final”.

Má fase de Luan
“Luan é um cara que corre 12 km por jogo, de volume de jogo, de movimento, e que próximo do gol consegue fazer gols. Não é velocidade, não é forte no arranque, é um cara de movimento. Muitas vezes o time tentou verticalizar, acelerar e deixou ele fora da sua melhor qualidade”.

Risco do time de rebaixamento
“Sport ganhou quatro ou cinco jogos e está na zona de classificação, no G5. A diferença é duas ou três vitórias e você sobe na tabela”.

Relação interna no clube
“Eu mantive uma relação muito boa com toda a direção do clube, principalmente com Duílio, cara fantástico. Se o Corinthians quiser pensar em título, organização, tem que pensar no Duílio, e não é campanha política. No suporte ao treinador, relação com atletas, muitos anos de Corinthians, torcedor nato, fez parte desse processo todo de melhora de ajustes”.

Reclamações nos bastidores
“Infelizmente, vocês têm muitas fontes, e é algo muito genérico, porque são empresários, jogadores, funcionários, dirigentes, caras da comissão técnica, alguém que fala alguma coisa num momento chateado, e tem que tomar cuidado. A relação era boa, treinar o Corinthians foi uma experiência muito boa, mas não vem os resultados e fio de cabelo se torna boia salva-vidas”.

Sequência da carreira
“Pouquíssimo provável que eu trabalhe nesse Brasileiro, esse ano ainda, até porque o campeonato é um moedor de treinadores, treinador virou bandeira pra tudo, pra ser exaltado, apedrejado. Pela maneira como as coisas estão sendo feitas, acho pouco provável. Recebi sondagens, nada de propostas, de fora do país. Não vou dizer que não, porque futebol é dinâmico, pode ser que aparece algo favorável, mas é pouco provável que eu volte a trabalhar”.


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