A paralimpíada do Rio de Janeiro serviu para mostrar a força e a superação dos atletas que têm algum tipo de deficiência. Nunca na história tantos recordes foram quebrados como nesta edição dos Jogos. O nível está cada vez mais alto e os paratletas não cansam de surpreender principalmente aquelas pessoas que costumam acompanhar esses profissionais de quatro em quatro anos. Nesta sexta, três medalhistas brasileiros pediram o fim do rótulo de “coitados” e deixam uma mensagem clara de que a modalidade precisa ser vista como esporte de alto rendimento.
“Espero que essa experiência traga mudanças no tipo de visão que as pessoas têm com o esporte paralímpico e de competições desse nível. É um esporte de alto rendimento em que as marcas se aproximam das marcas olímpicas ou até mesmo superam, como aconteceu esse ano. Os paratletas não podem ser vistos apenas com esse cunho social”, comentou Carlos Ferremberg, medalha de prata nos 50 metros nado livre, na classe S13.
Israel Stroh, também medalhista de prata na classe 7 do tênis de mesa, bateu na mesma tecla e garantiu que os brasileiros não ficam devendo em nada para seus concorrentes estrangeiros, apesar do alto investimento que é feito em outros países.
“O conforto deles para praticar o esporte é maior. Os profissionais são bem remunerados, eles têm os melhores aparelhos, os centros de treinamentos são climatizados, mas são todos pontos superáveis. Talvez aqui a gente nem precise desses lugares climatizados e você encontra boas academias para treinar. O interesse deles em iniciar no esporte paralímpico é maior, mas não devemos em nada tecnicamente”, explicou Israel, que se tornou o primeiro mesatenista a alcançar uma final em uma Paralimpíada.
Quem também viveu momentos inesquecíveis nos Jogos do Rio foi Lauro Chaman. E as emoções foram desde a decepção de um quarto lugar em sua primeira prova, até a alegria pelas duas medalhas, uma de prata na prova de resistência C4-5 e uma de bronze na prova de estrada contrarrelógio C-5, mas terminou com a tristeza de ter um companheiro morto durante uma de suas disputas.
“Foram os 15 dias mais felizes da minha vida. Às vezes a gente reclama de um carro riscado ou de um celular quebrado e lá, no refeitório, a gente via pessoas sem braços, pernas, algumas que mal se mexiam, e todos rindo, alegres, sem reclamar de nada. Eu tenho muito orgulho de fazer parte disso. Quando era adolescente, na escola, todo mundo me ‘zoava, mas hoje tenho orgulho de ser um paratleta”, contou Lauro, outro a levar o Brasil ao pódio pela primeira vez em uma modalidade.
A morte de Bahman Golbarnezhad foi o único ponto que tirou um pouco do brilho de tudo que os atletas viveram no Rio de Janeiro, principalmente Lauro, que estava competindo na mesma prova em que o iraniano passou reto em uma das curvas e não resistiu ao se chocar com o meio-fio. Apesar da lamentação, o brasileiro não viu qualquer problema no circuito.
“Foi a prova mais triste da minha vida. Eu estava a frente e não vi. Um dia a gente vai entender porque isso acontece. Todo mundo quer voltar para sua casa e ele não pôde voltar para a casa dele. Não achei o circuito perigoso. Esses acidentes sempre acontecem nas provas de ciclismo. Eu mesmo passei reto duas vezes na mesma curva”, explicou, sem esconder dua chateação.
Os três atletas brasileiros receberam o título de honra ao mérito da Unisanta, em Santos, nesta sexta e foram recebidos e homenageados pelas autoridades da Universidade e da prefeitura local.