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Dossiê palmeirense mostrou ligação com a Fifa e ouviu craque da Juventus

Gazeta Esportiva

Por Edoardo Ghirotto

São Paulo, SP



Conquistada pelo Palmeiras há exatos 65 anos, a Copa Rio tornou-se uma realidade graças ao empenho direto do engenheiro italiano Ottorino Barassi, braço direito do então presidente da Fifa, Jules Rimet. A participação do dirigente na organização do torneio foi um dos fatos que nortearam o dossiê que a diretoria do Verdão enviou à entidade que regula o futebol mundial, em 2006, para que a competição fosse reconhecida como o primeiro campeonato mundial interclubes da história.

O dossiê foi produzido com apoio de Roberto Frizzo, ex-vice-presidente do clube na gestão de Arnaldo Tirone (2011-2013). O arquivo foi publicado em quatro línguas, além do português, e conta com depoimentos de ex-jogadores que estiveram em campo no torneio. Entre eles se destacam o palmeirense Jair Rosa Pinto, o italiano e ídolo da Juventus, Giampiero Boniperti, e o brasileiro Yeso Amalfi, que defendia o francês Nice em 1951.

O documento mostra que a disputa de um campeonato mundial de clubes era um sonho antigo de Jules Rimet. A intenção do primeiro mandatário da história da Fifa era organizar o torneio de estreia em 1939, mas a eclosão da II Guerra Mundial (1939-1945) adiou os planos em 12 anos. Coube a Barassi a tarefa de concretizar as ambições de Rimet.

Barassi integrava desde 1913 o quadro de árbitros do futebol italiano. Antes de se envolver com a Copa Rio, o dirigente trabalhou como presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 1934 e chefiou a Federação Italiana de Futebol. A confiança que a Fifa tinha em Barassi era tamanha que ele foi o escolhido para proteger a taça Jules Rimet durante a II Guerra.

Após o conflito bélico, Barassi foi um dos organizadores que deu vida à Copa do Mundo de 1950. O torneio, disputado no Brasil, foi um sucesso de público e renda e mostrou à Fifa que o País era a melhor indicação para sediar a Copa Rio. Com o aval da entidade - e a presença de Barassi -, um Comitê Executivo foi formado e decidiu que a competição seria disputada entre junho e julho de 1951, com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro.

(Foto: Acervo/Gazeta Press)

O italiano Ottorino Barassi (à esq.) foi o elo entre a Fifa e a organização da Copa Rio (Foto: Acervo/Gazeta Press)



O plano inicial era contar com 16 equipes, mas as dificuldades logísticas e o alto custo de viagens para a América do Sul levaram a organização a convidar oito clubes. Como não havia um ranking oficial, as equipes foram escolhidas de acordo com sua capacidade técnica, fossem elas campeãs nacionais ou servissem como base para as seleções de seus respectivos países.

Rodolphe William Seeldrayers, vice-presidente da Fifa, se empenhou pessoalmente na tarefa de conseguir a liberação do Estrela Vermelha de Belgrado para o torneio. Base da seleção da antiga Iugoslávia, vice-campeã olímpica em Londres 1948, a equipe fazia parte do bloco soviético que não participou das Eliminatórias à Copa do Mundo de 1950. A confirmação de que o time jogaria a Copa Rio, no início Guerra Fria, marcou o pioneirismo na integração de outros países socialistas europeus em campeonatos de seleções ou clubes.

Por decisão da Fifa e da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, antecessora da CBF), a bola escolhida para a Copa Rio foi a Superball, que havia sido utilizada na Copa do Mundo de 1950. Em São Paulo, a Federação Paulista de Futebol interrompeu o Campeonato Paulista - o principal torneio do País - para que o Palmeiras participasse do campeonato mundial. A mesma medida foi adotada pela Federação Uruguaia de Futebol, que paralisou o torneio local para a ida do Nacional ao Rio de Janeiro.

O Palmeiras se tornaria campeão mundial no dia 22 de julho de 1951, após empatar por 2 a 2 com a Juventus, no Maracanã - o Verdão havia vencido o primeiro jogo por 1 a 0. O sucesso da Copa Rio foi tamanho que Barassi se inspirou nela para criar, em 1955, a primeira versão da atual Liga dos Campeões da Europa, batizada de Copa dos Clubes Campeões da Europa.

(Foto: Acervo/Gazeta Press)

Liminha (à dir.) entrou com bola e tudo para anotar o gol do título do Palmeiras (Foto: Acervo/Gazeta Press)



Para Barassi, a Copa Rio foi o "primeiro grande encontro de clubes campeões da história do futebol", conforme declaração que o jornal italiano TuttoSport reproduziu na época. Giampiero Boniperti, um dos maiores atletas que já passaram pela Juventus, atuou contra o Palmeiras nos dois jogos da final e confirmou a importância da competição em nível mundial.

"Acredito que foi realmente um torneio que se propôs a ser mundial, com os maiores clubes do mundo. Lembramos dessa Copa Rio com grande paixão e estima. Nós fizemos uma campanha extraordinária com a minha Juventus", disse o italiano, convocado para as Copas do Mundo de 1950 e 1954, em depoimento ao dossiê palmeirense.

Yeso Amalfi, considerado um pioneiro no Brasil por ter atuado por diversos clubes europeus, seguiu na mesma linha ao recordar a experiência que teve vestindo as cores do Nice. "A Copa Rio foi considerada a primeira Copa do Mundo entre os clubes, como uma Copa do Mundo normal entre os países", afirmou.

Já Jair Rosa Pinto, campeão da Copa Rio com o Palmeiras, viu na competição a chance de redimir o futebol brasileiro pelo título mundial que a Seleção Brasileia havia perdido para o Uruguai no Maracanazo. "O Brasil não foi campeão em 1950. Então, essa taça que nós ganhamos para mim representou a Copa do Mundo", declarou.

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